segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011




CAMBAXIRRA DO BREJO (Sergio de Carvalho) 21.02.2011

Minhas memórias de infância são povoadas de acontecimentos marcantes com pessoas, plantas, lugares, bichos e natureza em geral.
Quando era moleque, costumava jogar pelada na rua, soltar pipa em cima do telhado da casa da minha vó, e observar quase que diariamente um irrequieto e saltitante passarinho de cor amarronzada, que todos chamavam pelo curioso nome de “Cambaxirra do Brejo”.
O fato é que a tal criatura, era constantemente encontrada fazendo estripulias pelos muitos terrenos baldios alagadiços de Jacarepaguá, onde eu morava.
Naqueles idos tempos de Mutantes, Barca do Sol e Novos Baianos, esses passarinhos não eram raros, pelo contrario, até bastante comuns em seu habitat natural.
Era até mesmo possível ao andar pelos brejos e matagais da região, esbarrar com algum ninho ora com filhotinhos recém-nascidos ou mesmo com dois ou três ovinhos por chocar.
...sempre que os encontrava, procurava dar uma camuflada no ninho para que assim fossem melhor evitados os possíveis predadores.

Totalmente elétrico e ligeiro a Cambaxirra do Brejo ou Curruira, vivia assim feliz e em paz no cantinho que ocupava...
E eu adorava admirar esses alegres passarinhos, que apesar de não ostentarem plumagens vistosas multicoloridas e nem um canto melodioso, possuía como maior atrativo, justamente o seu jeitinho simples e discreto de ser feliz.
Certa vez ao observá-lo, bateu uma repentina inspiração, a qual por volta de 1977, me levou a compor uma musica instrumental em homenagem a esta singela criatura.
Na ocasião fazia parte da banda autoral de progressivo brasileiro chamada “Nascente”.
A musica foi devidamente ensaiada, apresentada ao vivo em alguns shows e felizmente gravada numa fita k7, a qual pude,passados 33 anos em 2011, resgatá-la e atualizá-la passando para o formato digital, mas principalmente emocionar-me ao ouvir novamente a composição e lembrar daquela que foi a fonte da minha inspiração musical.

Infelizmente com o gradual crescimento urbano daquela região, o concreto foi tomando conta do verde que nos rodeava, matando e sepultando numa lapide cinzenta os inúmeros bichinhos que ali viviam.
Com isso, essas adoráveis criaturas também foram desaparecendo da vista dos transeuntes, mas que agora meu coração saudosista a ressuscita vibrando de emoção.


Que Deus abençoe e proteja todas as Cambaxirras do Brejo que ainda existirem no Rio de Janeiro e em todo Brasil !